O Servo do Rei.
Adaptação: Jaysla Ravenna.
Todos os reinos sempre aparentam
ser o mesmo tendo em vista sua estrutura, corte, servos, lordes, clero e a
família real, o que muda são pequenos detalhes. Como cada corte tem seus
próprios servos, e estes, são diferentes, alguns apenas escravos comandados
pela realeza e obrigados a ouvir os piores insultos, outros são tratados com
respeito, até mesmo com admiração graças à sabedoria que acumulam, assim é a
humanidade, tem maior liberdade aquele que a merece, porque no Reino Comum
seria diferente?
As
páginas de um velho livro diziam que entre todos os servos do Rei Leonard havia
um que sempre chamava a atenção, Peter, todos sempre ficavam encantados com as
palavras que o rapaz proferia, pois a cada situação ele sempre tinha uma frase
a dizer, como se fosse o seu dever, ou apenas era a sua mente habituada aquilo
agindo por si só.
Todas
as vezes que ele passava a cavalo ou até mesmo caminhando por entre as ruas do
Reino Comum muitos começavam a murmurar sobre o jovem, e conforme o tempo
passa, ele nos traz surpresas, algumas boas, outras nem tanto.
Alguns
dias depois chegou aos ouvidos de Leonard que um de seus servos se comportava
como alguém que tivesse o dom das palavras, por ter o domínio dessas, ele
ordenou que o garoto fosse levado para a sua presença.
Quando
o trouxeram ele observou atentamente aquela figura magra que se aproximava, “não passa de um garoto, mal tem barba”,
pensou o Rei.
-
Vossa Alteza – ele disse fazendo uma reverência.
Ao
ouvir a voz do garoto percebeu o quanto esta tinha certo tom que chamava a
atenção.
-
Peter, correto? – Leonard dirigiu-lhe a palavra.
Peter
assentiu tentando não demonstrar o seu nervosismo.
-
Os ventos me trouxeram notícias suas – Leonard recostou-se no trono.
-
Notícias, Alteza? – indagou Peter. – Boas? Ruins?
-
Dizem que sempre tem alguma frase, não importa a ocasião, pode ser consolo, ou
até mesmo felicidade – o Rei prosseguiu sem dar atenção às perguntas do rapaz.
– Verdade ou mentira?
-
Verdade – Peter respondeu sem pestanejar.
-
Verdade... – Leonard o fitou. – Muitos teriam medo de confirmar tal coisa, mas
me diga, com quem você as aprendeu?
-
Com o tempo, com as pessoas a minha volta, cada qual em uma situação diferente
que acontecia ao alcance de meus olhos.
-
Tenho um desafio a propor-lhe, Peter.
-
Um desafio?
-
Se o aceitar poderá viver ou morrer, se o recusar...
-
Eu aceito! – Peter interrompeu o Rei. – Qual é?
Leonard
deixou um sorriso formar-se em seus lábios, ele gostava daquelas atitudes.
-
Corajoso – constatou. – Se é tão sábio quanto dizem as línguas ao teu redor, me
traga uma frase, uma simples frase.
-
Com que finalidade, Alteza? – Peter perguntou desconfiado, apenas uma frase,
aquilo estava muito fácil.
-
Eu quero apenas uma frase – o Rei ergueu-se do trono e caminhou até o garoto –
que me deixe alegre quando estiver triste, e que me deixe triste ao estar
alegre.
O
garoto o fitou com os olhos negros, como ele acharia uma frase como aquela?
-
Você tem até amanhã para me dar a resposta, agora vá! – o Rei disse voltando
para o trono e gritou: - Lembre-se,
apenas uma frase!
Peter
saiu cabisbaixo da sala do trono, aquele era um grande desafio e grandes
desafios vêm em boa parte do tempo em que não os esperamos.
A
noite aproximou-se sorrateiramente, pegando Peter com surpresa, ele estava em
seu quarto quando os raios daquela lua cheia invadiram aquele local. Peter
sorriu. A lua cheia que ia e vinha todos os meses ali estava e agora, mais
brilhante do que nunca.
-
Majestade, realmente acha que o garoto voltará aqui com a resposta? – um dos
Lordes ali perguntou ao rei.
-
Algo me diz que sim – Leonard respondeu o fitando.
O
prazo aproximava-se do fim aos poucos. Os murmúrios incessantes daquela sala
pararam ao ouvirem o ranger da porta de ferro daquela sala ser aberta,
revelando aquela mesma figura magra.
-
Vejo que encontrou a frase, porque não me parece ser louco o suficiente para
entregar-se – Leonard disse.
-
Vossa Alteza tem razão – ele disse fazendo uma reverência ao aproximar-se.
-
Então...?
-
Ontem me lançou o desafio, hoje trago a resposta, somente uma pode cumprir esse
efeito... Vai passar.
Realmente
o jovem estava certo, tudo o que é ruim e nos prejudica passa, assim como
aquela felicidade que gostaríamos que durasse eternamente, essa é uma certeza
da vida, tudo vai passar.